As mulheres aguentam meio céu






Esta semana me emocionei com um documentário exibido pelo canal Discovery Home & Health chamado "Half the Sky" (Meio Céu). Intrigada, fui pesquisar e acabei descobrindo que o título vem de um provérbio chinês que diz: "As mulheres aguentam meio céu".
Não dá pra discordar da sabedoria chinesa. O que as mulheres do documentário tinham em comum? O fato de terem sido vítimas de inomináveis brutalidades e, ainda assim, terem renascido para a vida. Foram vendidas pela própria família, violentadas, prostituídas, mutiladas, destituídas de tudo.
O que é comovente no documentário não é a saga algo hollywoodiana do casal de repórteres do New York Times Nicholas Kristof e Sheryl WuDunn, que percorre dez países acompanhado de celebridades como as atrizes Meg Ryan e Eva Mendes e em cujos rostos se percebe o ar de incredulidade diante da tragédia.
O mais emocionante é saber que mulheres que chegaram ao fundo do poço não só se reergueram como estão conseguindo salvar meninas na mesma situação. É o caso de Somana, uma jovem do Camboja que perdeu um olho pela crueldade de um dono de bordel, foi resgatada por Somaly Mam, que mantém um centro de reabilitação para mulheres vítimas de violência, e hoje quer inspirar outras meninas.
É a vida que se reafirma a despeito do horror. Meninas recém-libertadas da escravidão sexual são filmadas sorrindo e até brincando - prova da nossa "estranha mania de ter fé na vida", como canta Milton Nascimento na música "Maria, Maria".
O que o documentário mostra, acima de tudo, é que a educação é o melhor antídoto para o obscurantismo que ainda condena milhares e milhares de mulheres a uma vida de barbárie e dor. No filme, os pais de uma menina dizem, meio desconfiados, que foram convencidos a deixar a filha estudar. A menina parece sorrir intimamente. Sabe que venceu uma batalha crucial e que agora pode sonhar, de verdade, com um futuro melhor.



* Beatriz Alessi é jornalista e cidadã do mundo, como a maioria dos mineiros. Contadora de histórias, acha que a vida de toda mulher daria um grande filme - ou pelo menos uma modesta crônica.
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