Amor Daniel Glattauer







Tudo começa quando Emma, uma mulher casada, decide cancelar uma assinatura da revista Like e, por um erro de digitação, acaba enviando vários e-mails a Leo, cujo sobrenome é Leike… e chega um momento em que ele responde, não apenas dizendo que ela está enviando e-mails para a pessoa errada, como também, ele acaba cancelando a assinatura para ela.
A partir daí, os dois começam a trocar e-mails, e esse é um tremendo diferencial do livro: sim, ele é apenas e tão somente composto de e-mails! Não há narrador, somente e-mails! 

Somos voyeurs do que acontece na vida deles e de terceiros, marido de Emma/Emmi, ex-namorada de Leo, melhor amiga de Emma/Emmi… mas estou me adiantando… primeiro, vamos refletir…
“Nós produzimos formas imaginárias virtuais, quadros fantasmagóricos acabados um do outro. Fazemos perguntas cujo encanto consiste no fato de não serem respondidas (…) nós nos comunicamos no vácuo. (…) Graças a uma revista ruim sabemos que vivemos na mesma cidade. Mas fora isso? Nada. Não há outras pessoas ao nosso redor. Nós não moramos em lugar algum. Não temos qualquer idade. Não temos rosto. Não distinguimos entre dia e noite. Não vivemos em tempo hdcdfshbjdefalgum. Temos apenas nossos respectivos monitores, rigorosos e sigilosos por si só, e temos um hobby em comum: interessamo-nos respectivamente por uma pessoa completamente estranha.”
Quantas vezes você confiou mais em contar algo da sua vida, algo mais íntimo a alguém que nunca viu pessoalmente? A alguém que só conhece via internet? Talvez nunca tenha acontecido, mas, embora pessoas, na minha opinião, retrógradas, insistam que seja impossível criar laços via internet, eu tenho ótimas amigas que, ao menos por enquanto, só conheço via internet. E elas não são menos importantes para mim do que as que tenho em carne e osso. E já fiz amizades do outro lado do “mundo” também, os meus amigos suecos e finlandeses, e dá sim para criar uma intimidade com palavras, se você souber como se expressar… é uma coisa tão incrível que só vivenciando mesmo. E não estou falando em termos de amor, e sim de amizade. Pura e simples, sincera e honesta.
É claro que você não vai revelar sua vida inteira a um(a) estranho(a) na internet, mas quem revela sua vida INTEIRA a alguém? Pensem nisso…
Apesar da capa “fofinha”, acredito que esse livro seja indicado tanto para homens quanto ulheres, pois, embora pareça um romance puro e simples (eu já falei a vocês que normalmente não gosto de romances pura e simplesmente? rs), o autor nos leva às profundezas mais belas e sórdidas do ser humano, suas coisas mais intrínsecas, seus egoísmos, seus jogos de sedução, sentimentos de posse sobre o que não tem, mas também não quer perder… a paixão como um todo, e não somente entre os dois… tudo vai subindo num crescendo digno, ao menos para mim, dos relatos de Henry Miller sobre sua June (sem as partes porn, e obviamente com outro estilo de escrita, mas acho que deu pra entender aonde eu quis chegar, ao menos para quem conhece Henry Miller =])! Não no mesmo estilo de escrita, mas com um grande nível de paixão, tão intenso, que pode transformar a vida de pessoas mornas, reacendendo uma chama meio apagada dentro delas mesmas… acostumadas sejam com seus fracassos, com seus círculos viciosos, ou com sua vida boa-mas-não-tanto.
“Escrever é beijar com a cabeça.”
Os personagens falhos, como nós, humanos somos, e não idealizados, foi algo que também contribuiu para que @mor tenha sido um romance com um efeito tão bombástico para mim! Gosto de fantasia em livros de fantasia, e algo mais real em um romance, talvez… 



“… agora estou recolhendo os pedaços esquizofrênicos em que me parti nos últimos dias. Se conseguir colar os pedacinhos, darei notícias.”
Sair do “lugar comum” é legal, e ando fazendo muito isso com livros ultimamente, fugindo da minha zona de conforto… e ando me surpreendendo. @mor foi um bela surpresa, eu realmente não esperava tamanha intensidade, tamanho ritmo, tamanha paixão, tamanhos jogos, posso dizer que é muito melhor do que (e não só por ser em formato de livro e não de filme) o filme mencionado lá no primeiro parágrafo desta resenha, e inclusive muitíssimo melhor do que “De olhos bem fechados”, a quem Leo se refere como “o filme das vendas nos olhos”.
“Novos tempos não podem nunca ser como os velhos tempos. Quando se tenta, eles parecem tão somente antigos e gastos, como aqueles pelos quais se suspira (…) quem lamenta pelo tempo que passou está velho e de luto.”
O livro também serve como uma ótima avaliação de traços psicológicos das pessoas, mas admito que me prendeu tanto e me envolvi tanto com a história em si que não consegui ser analítica demais, apenas fui sendo levada por essa torrente de emoções e medos e tudo isso somado ao vento norte…
Eu não posso falar muito mais do que isso sem entrar no campo dos temíveis spoilers. Por isso a resenha não é tão longa, mas espero que tenha sido o suficiente, junto com as citações, para convencê-los a lerem este livro que me cativou, especialmente a mim, alguém que não costuma gostar de romances.


Resenha: Ana Death Duarte


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